Por Fernando Lopes,
Campeão do FVee Open 2021.
Fotos: Marcos Batista/Velocidade em Foco
“Automobilismo é para quem tem dinheiro. Se não tem, esquece.” Esta foi a frase que ouvi quando buscava dar início à carreira de piloto.
Treze anos se passaram até que eu conseguisse finalmente competir uma temporada completa em um campeonato do automobilismo nacional.
Depois de alguns anos, refletindo, percebi que errei na estratégia ao deixar meu bom emprego numa multinacional para seguir meu sonho no esporte a motor.
Poderia ter aproveitado melhor a condição favorável de minha posição executiva para ir dando passos mais suaves na construção do caminho até o outro lado, onde a vontade e a vocação se encontram. Diferente disso, fiz uma transição imediata e completa. Pedi demissão e fui para a pista.
Primeiro objetivo seria confirmar se havia em mim algum talento. Quase vomitei ao sair do banco do passageiro (de trás) da Megane SW pilotada pelo feroz Zé Davi no Autódromo de Interlagos. Era o curso de pilotagem do Roberto Manzini.
Ao final do curso, do qual jamais desistiria e durante o qual me dediquei plenamente, ouvi do mesmo instrutor as palavras: “Você sabe o que está fazendo aqui. Está pronto para competir”.
Confesso: agradeci rapidamente a avaliação e corri para chorar de emoção no vestiário.
Começava, de fato, a caminhada. O ano era 2008.
Prometi a mim mesmo jamais desistir. O que houvesse pela frente, eu me submeteria ao aprendizado até alcançar o objetivo. Pedi a Deus que guiasse meus passos e me transformasse no que eu precisasse ser.
De lá para cá, acredito que tudo tem um propósito e uma maneira de acontecer, a jornada foi repleta de desafios de todos os tipos: críticas, “conselhos”, descrenças, piadas, provocações, frustrações, portas fechadas, milhares de negativas, uma multidão de oportunistas, de falsos atletas, falsos “amigos”, gente se acotovelando e se enganando para obter alguma “vantagem”.
Claro que houve também momentos de alegria. Das pequenas às grandes conquistas: o primeiro capacete pintado, as corridas de kart, a vitória numa etapa da Stock Jr 2013, os amigos verdadeiros com os quais convivo até hoje, presentes de Deus.
O piloto Fernando Lopes, campeão da FVee Open 2021, em seu monoposto no ECPA.
E tudo o que houve no caminho, de bom e de ruim, percebo que ocorreu da maneira mais perfeita possível para me conduzir até o momento atual: campeão da primeira FVee Open.
Competir uma temporada completa e vencer um campeonato oficial do automobilismo nacional. Este era o primeiro grande objetivo.
Mais do que alcançado, pois Deus me deu muito mais do que isso.
Neste ano de 2021, tive a maravilhosa oportunidade de competir em um campeonato do autêntico automobilismo, feito com máximo respeito ao esporte.
Nos mínimos detalhes, o que a equipe da F/Promo Racing e o sr. Flávio Menezes realizam é o verdadeiro automobilismo, que só pode ser realizado por quem realmente ama o esporte e o sabe, mais que isso, o tem como parte essencial da própria vida.
A experiência que vivi na FVee neste ano foi, para mim, a recompensa por longos anos de persistência, resiliência e dedicação. E não estou sozinho, pois lá encontrei pessoas que têm caminhado na mesma estrada. Pilotos que amam o esporte e o respeito, o valorizam e o praticam com honra e ética. Como deve ser.
O que a FVee fez nesta primeira temporada da Open foi mágico. Fizeram o “simples”, o certo, o justo, o melhor. Entregaram uma temporada de competições por valores possíveis para aqueles que desejam viver o automobilismo, um começo, uma oportunidade de estar na pista, dentro do carro, colocando em prática o talento, a garra, a determinação, e tudo mais o que compõe um verdadeiro atleta.
Durante todo o ano, ouviram com consideração e boa vontade todas as boas sugestões, foram ponderados, tiveram bom senso, trabalharam e trabalharam duro para entregar carros equalizados, igualdade de condições, sempre encontrando uma forma de valorizar a esportividade pela máxima de “que vença o melhor”.
Absolutamente tudo feito com visão e propósito: o sistema de pontuação, o regulamento, a divisão em séries, a grande final dos quatro melhores de cada série, as premiações para dar condições de continuidade, as novas categorias já anunciadas para 2022, tudo feito pelo automobilismo, sem oportunismos, sem ganância, e sim com amor ao esporte, com trabalho honesto, dedicado e transparente, ouvindo a todos, respeitando a todos.
Estive no lugar certo ao lado das pessoas certas. Por isso também é lá onde pretendo sempre estar. Ainda que minha carreira me leve a viver novas categorias e competições, já sinto em meu coração que a FVee será sempre a minha casa.
Criamos os filhos para viverem no mundo. E em algum momento eles irão para viver suas novas experiências. E é também muito verdade que “o bom filho à casa torna.”
O que me chama a atenção, num raciocínio muito simples, é um fato e uma questão ao mesmo tempo: Por que uma categoria tão bem organizada como a FVee Brasil, tradicional do automobilismo mundial, que de fato oportuniza o desenvolvimento do esporte em várias frentes e diversas formas, não encontra nas grandes empresas envolvidas em suas atividades o apoio que precisam e merecem?
É esse tipo de situação, mais que isso, de cultura, de maneira de atuar, que dá ensejo à frase: “automobilismo é somente para quem tem dinheiro”.
Automobilismo é um esporte. E esporte é sagrado. Deve ser possível aos que o amam, se dedicam e tem talento, sejam pobres, ricos, negros, brancos, homens ou mulheres, enfim, independentemente de qualquer coisa.
O que a FVee Brasil tem feito, pela visão e ação de seus idealizadores e gestores, é dar essa oportunidade.
O que o esporte realmente precisa é que empresas relacionadas e com condições de sobra, apoiem iniciativas como as do sr. Flávio e sua equipe.
Empresas multinacionais que estão há várias décadas, quase um século, em nosso país, lucrando com a força do trabalho e a confiança de nossa gente em seus produtos. Empresas que muitas vezes até fazem questão de se mostrar associadas aos valores do brasileiro, parte de nossa história. Por que, então não se movem para realmente impulsionar o desenvolvimento, verdadeiro, insisto, não apenas mero marketing vazio, mas sim ações verdadeiras na base do automobilismo para que ela possa ser acessível para mais e mais atletas, quaisquer que sejam suas condições?
O Brasil é um país global. O mais miscigenado e mais receptivo de todos. Sempre de braços abertos a receber pessoas e empresas do mundo inteiro.
Entre, a casa é nossa. Pois então, assumam a postura responsável e colaborativa, ao contrário da exploratória, ausente, “superior”, omissa e distante. Nosso povo abre as portas, trabalha, é honesto, é sério e merece respeito.
A Fórmula Vee Brasil desde muito tempo utiliza partes mecânicas e motores Volkswagem e pneus Pirelli.
As que atualmente são parceiras comerciais da FVee são: BraClean, Real Radiadores, Global Decor, Hotéis Ibis, Motul, Água Fresca, GP Suspensões, Tecpads e Pilotech.
A todas essas empresas e pessoas envolvidas e que venham a se envolver no desenvolvimento de nosso país, por meio do nosso esporte e tudo o que se relaciona a ele, meu muito obrigado e meus sinceros parabéns!
Obrigado, FVee! Automobilismo é para todos que o amam.
Crescemos juntos, em sinergia! A única forma de realmente prosperar.
Fernando Lopes, campeão da FVee Open 2021, e Flávio Menezes, diretor da FVee Brazil.